Entrevista com o Diretor da América Latina da Ubisoft, Bertrand Chaverot.
Bertrand Chaverot deve ter uma moral muito grande com seus chefes franceses da Ubisoft, mas não é a toa. Segundo o diretor da América Latina, a Ubi se tornou a maior publisher de games no Brasil e a sua atitude agressiva de marketing (e sua grande sorte de os brasileiros se amarrarem em Assassin’s Creed) são grandes responsáveis pelo sucesso dos criadores de Rayman e Just Dance.
O estande da Ubisoft no Brasil Game Show nesse último fim de semana (12) era modesto, mas estava sempre bombando. A empresa resolveu focar em Just Dance 4, que repetiu a exaustão todo o catálogo do circuito pop dançante das rádios no seu palco, e a franquia Assassin’s Creed, que, infelizmente, tinha apenas uma unidade da tão esperada demo de AC3.
Encontrei com o Bertrand no meio da correria da feira e entramos na salinha de vidro da Ubisoft para conversar sobre a privilegiada posição da empresa no mercado brasileiro no momento. Enquanto rolava a entrevista, Philippe Ducharme, produtor de Assassin’s Creed III estava dando autógrafos em frente a um telão hipnótico onde as pessoas testavam o novo jogo da série.
Todo mundo fazia muito barulho mas Bertrand, tranquilo, apenas ria.
Kotaku: Oi, Bertrand! Tudo certo? Muita correria?
Bertrand Chaverot: Muita energia positiva! É muito bom ver todas as pessoas aqui. 100 mil num evento só de videogames é algo histórico.
Como está sendo a feira pra Ubisoft? O público está respondendo como vocês esperavam?
Temos uma presença muito focada em Assassin’s Creed III e Just Dance 4. A Ubisoft tem a sorte de ter jogos casuais e jogos para gamers. Nos dois seguimentos temos jogos extremamente simpáticos pra esse ano. O AC3 é o maior projeto já feito da Ubisoft: 500 pessoas e sete estúdios trabalhando no jogo durante três anos. E o game ficou muito bom! (risos)
No segmento casual, o Just Dance 4 é o jogo mais vendido para as famílias e que volta agora para todas as plataformas. É o único jogo de dança para quatro pessoas ao mesmo tempo. O Dance Central, da Harmonix e EA, é só para duas pessoas. O nosso é mais divertido, mais vendido – temos 70% de mercado nessa categoria que criamos – e isso nos permite ter as melhores músicas também. Chegamos com Maroon 5, One Direction e Rihanna.
Vocês tem 1,2 milhão de pessoas na sua página do Facebook. É a maior página da Ubisoft do mundo. Como vocês alcançaram esses números? Qual foi a estratégia de vocês?
Transparência, honestidade e humor. E dinheiro, publicidade. Por exemplo: aqui na feira, temos um estande pequeno para Assassin’s Creed e Just Dance, mas está lotado e interessante. O dinheiro que a gente economizou aqui vou colocar em publicidade na Globo e no Facebook.
Aqui na feira tem muita gente com estande gigante, mas que quase não tem jogo para mostrar. É aquele lance de homem com carro grande e pinto pequeno. (risos)
Investimos muito nesses dois jogos, mas além deles, temos um portfólio fantástico para 2013. É a primeira vez que temos um catálogo tão rico. Também temos o Just Dance Disney, que deve vir depois do Just Dance 4. Fizemos uma campanha fantástica na Rádio Disney, na TV Disney e nas revistas da marca. Tem uma presença muito forte aqui de figuras como Hannah Montana, Selena Gomez e todos os filmes da Disney.
Temos também o jogo d’Os Vingadores, da Marvel; depois, o Far Cry 3; temos o Hip-Hop Experience, um jogo de dança com mais músicas R&B e rap. E ainda temos todos os lançamentos do Wii U. A Ubisoft sempre apostou em novo consoles, tanto que somos a companhia que tem mais jogos para o Wii U. Temos oito jogos, mais que a Nintendo! (risos)
Na última vez que nos encontramos, você mencionou que Rayman Origins teria uma continuação e agora estamos aqui com o Rayman Legends. O Origins tinha uma preço bem competitivo de lançamento, a menos de R$ 100. Vocês vão manter a mesma atitude agressiva de vendas para o Legends?
Ano passado, quando começamos essa campanha, eu fiz um teste com o Rayman aqui no Brasil. Era R$ 99, ou US$ 50, que é um preço menor que o do resto do mundo. Foi muito importante essa estratégia para mostrar que era possível ser agressivo no mercado brasileiro. Isso foi muito bom para a imagem da Ubisoft, para mostrar que somos pro-ativos e temos vontade de batalhar pelos preços.
Nesse ano, o dólar está valendo R$ 2 e o euro, R$ 4. Agora vai ser difícil manter esse mesmo nível de preço. Mas continuamos com os preços já previstos: AC3 deve chegar a R$ 169, Far Cry 3, se o dólar não subir ainda mais, quero lançar a R$ 149.
Esses preços valem para o Wii U também?
O Wii U ainda não sabemos. Acho que vai ser um pouco mais caro, por conta da oferta e do amortecimento do baixo volume de vendas do console no começo. Mas, no máximo, será R$ 179.
Uma pesquisa recente da consultoria PricewaterhouseCoopers diz que o Brasil é hoje o quarto maior mercado de games do mundo. Vocês sentiram esse mesmo crescimento do mercado?
Isso está um pouco exagerado. Para o mercado de console, somos o sétimo. Esse ano temos 3,5 milhões de consoles e ano passado tínhamos 1,2 milhão. Estamos crescendo muito bem. No fim desse ano, devemos chegar a 4,5 ou talvez 5 milhões de consoles. Então, devemos chegar rapidamente nos primeiros colocados do mundo.
Mas depois disso, para crescer ainda mais, vamos depender muito dos impostos. Se os impostos permanecerem a 50%, 60%, não vai dar para atingir o tal “mercado de massa” de que tanto falamos. Esse é o desafio.
Outra pesquisa feita em paralelo pelo grupo Gfk, aponta que o Xbox 360 domina 65% do mercado formal brasileiro. Esse número também se reflete nas vendas da Ubi? Qual é o console mais importante para a Ubisoft nesse momento no Brasil?
Sim, sim. Antes vendíamos muito mais jogos para o PS3, como o [Assassin's Creed] Brotherhood, que vendeu três vezes mais no PlayStation 3 do que no Xbox 360. Já o Revelation vendeu 60% no PS3 e 40% no 360 no ano passado. Esse ano, o AC3 deve vender de igual para igual nos dois consoles, um para um.
Mas não temos preferência de console, trabalhamos nos adaptando para cada caso. Nós esperamos que a Sony acorde e comece a montar o PlayStation 3 aqui no Brasil também, porque senão eles vão sumir. Esperamos também que a Nintendo faça um bom lançamento do Wii U por aqui, com um bom preço, porque temos jogos muito bons e é uma máquina interessante com a tablet. Espero que não seja difícil.
A Ubisoft está realmente apostando pesado no Wii U…
Não é que estamos apostando pesado. É uma nova máquina e a Ubisoft sempre apostou em novos sistemas. Sabemos que é um desafio. Ano que vem esperamos ver se a Sony e a Microsoft tem algo para anunciar também.
Qual jogo vocês vão focar mais no Wii U? Tem algum game que será a bandeira da Ubisoft no novo console?
O Assassin’s Creed III e o Zombie U. Em termos de volume, esses dois. E o Just Dance 4 também. As vendas na América do Sul já estão explodindo, esse ano vamos… como se diz quando você vai bater forte no adversário?
Dar um couro?
Isso, vamos dar um couro na concorrência, no Dance Central. Esse é o nosso objetivo com o jogo de dança. É o único para quatro jogadores e temos um marketing muito forte, vocês vão ver passando na TV Globo. Nossos 1,2 milhão de fãs estão apoiando muito, tem vários flashmobs que eles estão programando para o lançamento o jogo.
Ano passado vendemos 40 mil e esse ano vamos passar dos 100 mil. Just Dance é muito divertido. Ano que vem, teremos o Just Dance 5 e estamos brigando com os estúdios da Ubisoft lá fora para trazer músicas brasileiras e latinas para as versões da América do Sul. Isso é o mais importante.
Olha para uma feira como essa, com 100 mil pessoas, com uma base instalada de cinco milhões, 300 mil unidades da franquia Assissin’s Creed já foram vendidas aqui no Brasil, tudo isso mostra o tamanho e como é importante produzir conteúdo para o mercado sul-americano. Videogame é cultura e cultura é conteúdo local também. Tem que ter.
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